O Azores Trails Fest é um evento anual, que teve a sua primeira edição em 2022, na ilha de S. Jorge.
É um evento promovido pelo Governo dos Açores e visa partilhar as ilhas dos Açores, dum ponto de vista não só virado para o turismo de natureza e trekking, que é o produto de excelência da região dos Açores, mas também com outras pequenas actividades e envolvências com as gentes da terra e sua cultura.
Para o evento são convidados, geralmente, operadores turísticos que actuem ou queiram actuar nos Açores. Porém, muitas actividades visam, também, a participação das gentes locais.
Assim, em 2023 tivemos a imensa honra de ser convidados a participar na segunda edição deste festival, que se realizou na Ilha Graciosa, um dos poucos locais no mundo onde se sobrepõem várias designações UNESCO (Açores Geoparque Mundial da UNESCO, Reserva da Biosfera e Sítios Ramsar), entre os dias 4 e 7 de Outubro.
E neste artigo vamos contar-te tudo!
Dia 1 – Chegada e Abertura Oficial do Azores Trails Fest
Depois de uma viagem de várias horas, típica de quem se arrisca ir mais além do que apenas S. Miguel e Terceira, chegamos então à ilha Graciosa, também conhecida como Ilha Branca devido ao traquito (uma rocha de origem vulcânica, mas de cor branca) e também à toponomia local como, por exemplo, Serra Branca, Pedras Brancas e Barro Branco.
A segunda ilha mais pequena do arquipélago, com 61km2 e pouco mais de 4500 habitantes, estava então à nossa espera.
Para nos receber estava um dos elementos da Equipa do Núcleo de Apoio às Atividades de Turismo de Natureza, da Direção Regional do Turismo, o “peculiar” Paulo Ourique, que se viria a revelar como um verdadeiro embaixador não só dos Açores mas também da sua querida ilha Terceira.
A Equipa do Núcleo de Apoio às Atividades de Turismo de Natureza, da Direção Regional do Turismo é composta por vários elementos, que tivemos oportunidade de conhecer ao longo dos dias e cuja função é a manutenção dos trilhos homologados em todas as ilhas. O mentor desta equipa é o Dr.Paulo Garcia, orgulhoso Picaroto e e vogal na Estrutura de Gestão da Sustentabilidade do Destino Turístico Açores (Açores DMO)
A abertura do festival começou pelas 18:00 com uma pequena cerimónia protocolar que contou com a participação da Secretária Regional do Turismo, Mobilidade e Infraestruturas dos Açores – Dra. Berta Cabral, a Directora Regional do Turismo- Dra. Rosa Costa e o Presidente da Câmara Municipal de Santa Cruz da Graciosa – Dr. António Reis, entre outros ilustres convidados.
De seguida, serviram-nos um pequeno buffet com salgadinhos, sumos, vinho e as deliciosas Queijadas da Graciosa, pois era preciso repor energias para a primeira caminhada do festival – uma caminhada noturna no PR03 GRA – Baía da Folga.
O objectivo não era obviamente as vistas deslumbrantes desta pequena caminhada, mas sim apurar os nossos sentidos para a vida selvagem noctívaga da região, onde se destacam na primavera e verão os cantos dos cagarros.
Finda a caminhada, ainda tivemos um pequeno workshop de Fotografia Nocturna dinamizada pelos membros da AFAA – Azores, onde nos divertimos a tentar vários tipos de exposição.
O óbvio seria pensar que daqui regressaríamos ao nosso alojamento, pois a noite já ia longa. Mas não. Nos Açores nada é óbvio e as surpresas estão em cada esquina. À nossa espera, na praça central da localidade de Luz estavam duas panelas gigantes de caldo verde quentinho, chá e salgadinhos. Isto é algo simplesmente mágico e duma simplicidade fenomenal.
Dia 2 – O PR04 GRA – “Das Vinhas ao Mar” e Festival de Folclore
Se o primeiro dia terminou com uma caminhada, o segundo iniciaria com outra caminhada.
O PR04 GRA, intitulado “Das Vinhas ao Mar” já diz muito sobre o que vais ver nesta rota…mas não tudo.
Nos seus quase 7 km de extensão a primeira parte do trilho desenvolve-se em explorações vinícolas, divididas em currais de pedra vulcanica. Parámos junto a um dos vários moinhos de vento que marcam a paisagem da ilha Graciosa, onde a Ana Teixeira enriqueceu o conhecimento dos participantes, explicando a sua arquitetura, o seu funcionamento e contou a história cerealífera da Graciosa, que foi considerada em tempos idos como o “Celeiro dos Açores”.
A meio caminho chegamos ao farol da Ponta da Barca, onde admiramos o famoso ilhéu da Baleia.
A partir daqui, a paisagem muda por completo e parece que estamos a fazer um trilho completamente diferente. Entramos em paisagem vulcânica, crua e bela como só estas paisagens sabem ser.
Como caminhamos em paisagem protegida, seguimos o Técnico Carlos Picanço (Parque Natural da Ilha Graciosa) em fila indiana para evitar pisotear plantas indígenas.
Por fim, chegamos à zona Balnear do Barro Vermelho, onde terminamos o trilho e prosseguimos para o Multiusos, onde estava à nossa espera um delicioso “Molho à pescador” preparado pelo Sr. Mário Melo e pelo seu neto Danilo, bem regado com os vinhos da ilha.
Após o almoço tivemos demonstração de folclore da ilha, com a atuação do Grupo Folclórico da Casa do Povo da Praia, e muito bailarico à mistura.
Jantamos num restaurante bem no centro de Santa Cruz, onde também demos por abertas as hostilidades e fizemos uma apresentação individual.
Aqui descobrimos que estávamos rodeados de “dinossauros” dos operadores turísticos em Portugal, como o Luis Dias da Papa-Léguas, o Luis Coelho da Portugal A2Z e o Fernando Completo da TRYPortugal.
Dia 3 – Fam Trip “Azores Trails Fest”
Tal como acontece nas nossas viagens às ilhas, também aqui temos um dia dedicado a uma roadtrip para conhecer os sítios mais emblemáticos. A Mónica Gregório, técnica no Posto de Turismo da Graciosa, foi a nossa guia para este dia.
Assim o dia iniciou com uma visita a Porto Afonso. Uma paisagem vulcânica aguardava por nós com uma característica única. Na falésia costeira foram escavados “abrigos” pelos pescadores para guardarem os seus barcos. . Uma mistura de arquitectura natural com humana, que faz deste lugar um sítio de visita obrigatória.
A seguir, prosseguimos viagem para uma das actividades obrigatórias na Graciosa – a visita à Associação de Criadores e Amigos do Burro Anão. Por lá ficamos uma boa hora a ouvir a Sandra Santos, sobre o porquê de haver a necessidade de criar esta associação, bem como as características que distinguem este burro dos demais. Uma sessão longa de selfies e mimos as estes curiosos animais e prosseguimos viagem pela Rota dos Vulcões.
Uma pequena paragem e caminhada para circundar a Caldeirinha de Pêro Botelho e ver o Parque Éolico da Graciosa, antes da prometida paragem nas Termas de Carapacho.
As Termas de Carapacho são águas quentes e por isso indicados para patologias como reumatismo. A entrada é gratuita (pelo menos para já) e mesmo em frente podes encontrar duas belas piscinas naturais para o caso de águas quentes não serem a tua “praia”.
Após o almoço, o destino era S. Mateus (Praia), uma das freguesias mais conhecidas da ilha. Aqui aguardava-nos um semirrigido para nos levar até ao ilhéu da Praia. Uma aventura para entrar e sair do barco, mas lá conseguimos. Já no Ilhéu, o Dr. André Espinola (Director do Parque Natural da Ilha Graciosa), fez-nos uma tour sobre a importância deste ilhéu e as várias iniciativas locais que ali se realizam para preservar espécies de aves marítimas que ali fazem a sua nidificação, nomeadamente o Paínho de Monteiro, uma ave marinha endémica dos Açores. Por ser uma área protegida, as visitas ao Ilhéu são altamente condicionadas.
Com a ondulação a não dar tréguas, tivemos de encurtar a visita de modo a podermos sair do ilhéu em segurança.
Porém, o melhor ainda estava por vir. Uma visita à fábrica das Queijadas da Graciosa, e logo aparece o Sr. Mário Melo a convidar-nos para ir provar a sua aguardente caseira. Logo um repasto se proporcionou, que chegou aos ouvidos do Sr. José, um vizinho do Sr. Mário. Adivinhas o que aconteceu? Pois claro. Mais um convite para ir provar a especialidade da casa. Desta vez não seria aguardente, mas sim Vinho Madeira, que desconhecíamos por completo.
Já bem quentinhos e animados, regressamos ao alojamento para irmos jantar.
Após o jantar, alguns dos convidados (nós inclusivé) ainda foram à Associação dos Músicos da Ilha Branca, onde o serão se prolongou até altas horas da madrugada, na companhia do Sr Valdemiro e do Professor Helder.
Dia 4 – PR05 GRA – Subida ao Cume
O último dia do Azores Trails Fest estava então a iniciar, para nossa grande tristeza. Porém, o melhor fica para o fim. Fomos ao encontro de outras pessoas que se haviam inscrito na caminhada para então seguirmos no autocarro para a localidade da Luz, onde o trilho iniciava.
Os avisos já tinham sido dados, mas nada nos preparava para a subida de 3 km’s, com uma inclinação bastante acentuada. Contudo, lá fomos. Cerca de 50 pessoas cada uma a tentar estabelecer o seu ritmo (incluindo nós depois da noitada) com a ajuda preciosa de todos os elementos da Equipa do Núcleo de Apoio às Atividades de Turismo de Natureza.
As paisagens começavam a desenhar-se assim que começamos a chegar ao topo. Vistas deslumbrantes de 180º com a ilha a nossos pés.
Porém, ainda antes de chegarmos à Furna do Enxofre, fizemos uma paragem no parque de merendas da Reserva Florestal de Recreio da Caldeira, onde nos aguardava um belo pic-nic. Reabastecidos, percorremos então cerca de 750 metros até chegarmos à Furna do Enxofre. Fomos ao centro de visitantes perceber como se formou a Furna do Enxofre e as outras duas furnas menores, denominadas de Maria Encantada e Abel.
Nota Importante: não tens fontes de água potável e comida durante todo o trilho, por isso vai abastecido. A Furna do Enxofre pode estar com acesso restrito devido às concentrações de CO2, mas só saberás quando lá chegares. Porém, para visitares a Furna de Enxofre não necessitas de fazer a caminhada, pois tem estrada até lá.
Depois, descemos os 183 degraus da Torre, que por si só já é uma experiência, para entrarmos na Furna do Enxofre. Decorria já o concerto de Violas da Terra. Não estávamos preparados para o tamanho colossal da Furna. É ridículo o seu tamanho e ainda mais pensar que tudo é natural. Senta-mo-nos por momentos para apreciar o concerto antes de fazermos uma pequena caminhada pelo passadiço.
Findo o concerto, voltamos ao trilho onde ainda passamos pela, recentemente inaugurada, estátua “A Caminhante”, que assinalou o início do Azores Trails Fest. Uma escultura de madeira inspirada na “Maria Encantada” e que pretende homenagear todos os pedestrianistas que percorrem os trilhos dos Açores, em que foram usados fragmentos de troncos, num reaproveitamento de materiais endógenos e perfeitamente enquadrados na magnífica paisagem da Caldeira, da autoria de José João Dutra.
Contudo, a caminhada prosseguiu ainda pela Furna da Maria Encantada e a Furna do Abel, ambas magníficas, até chegarmos finalmente a Luz, onde o autocarro nos aguardava para nos levar ao alojamento.
Assim, como o nosso alojamento, apesar de ter piscina, ficava a poucos metros da Poça da Salema, nós e mais uns elementos do grupo fomos dar um belo mergulho para celebrar então um dia em cheio.
À noite mais um belo repasto e muitos brindes a mais uma edição do Azores Trails Fest bem sucedida.
Dia 5 – Dia livre e Partida
Como o nosso voo era só ao final da tarde, alguns dos elementos aproveitaram ainda para ir ao Monte da Nossa Senhora da Ajuda.
Subir a este monte vale a pena não só pelas vistas, mas também porque tem um caracteristica única – uma praça de touros dentro duma createra vulcanica. Sim, leste bem, na Graciosa, a Praça de Touros está dentro dum vulcão.
Da parte da tarde, fomos dar uma volta por Santa Cruz para descobrir algumas Piscinas Naturais, antes do ultimo almoço com o grupo todo.
Porém, as actividades não terminaram com o almoço. Mais uma vez, uma surpresa estava a caminho, e fomos convidados pelo Sr. Juvenal a provar as suas aguardentes e licores da ilha. A seguir ao almoço, um ultimo repasto.
E foi assim a nossa primeira participação no Azores Trails Fest. Dizemos primeira, porque de certeza iremos regressar. Foram 4 dias soberbos, com pessoas excepcionais, que permitiram uma experiencia estrondosa.
Além das pessoas já mencionadas neste artigo, queremos ainda agradecer à Equipa do Núcleo de Apoio às Atividades de Turismo de Natureza que tornou esta aventura ainda mais espectacular ( Daniela, Ana Rita, Adriana, Sérgio, Rodrigo, Dário, Toste), aos nossos Fotografos Amadores, que permitiram registos espantosos (Gabi, Francisco e Zé), aos nossos mui talentosos Urban Sketchers Alexandra e Bruce, e por último os incansáveis videografos António Araujo e Paulo Pereira.